Muitas vezes aquela vontade incontrolável de comer um doce, passa a ser sentida como algo que é fundamental para ser feliz. Por isso, a sensação é que essa vontade deve ser atendida no mesmo momento, gerando prazer. Vamos analisar isso mais a fundo. Quando fazemos algo que é prazeroso para nós, o cérebro secreta com mais intensidade um neurotransmissor chamado dopamina.

Imagine a seguinte situação: você está trabalhando no seu computador e sente o aroma de seu bolo preferido, a dopamina é liberada, indicando uma lembrança de prazer e um desejo de repetir aquela experiência prazerosa (comer o bolo). Com isso, o estômago recebe a mensagem ativando a sensação de fome, e logo você pensa: ‘hum, quero muito comer bolo”. Se você não atende a esta vontade de imediato, o corpo entra em conflito entre o querer, e o que pode fazer no momento. O coração começa a bater mais forte e há uma dúvida: a) pegar o bolo já ou b) esperar até o momento certo. O racional escolhe a segunda opção, não pegar o bolo e isto reduz a dopamina, seu corpo sente a desagradável sensação de frustração, gerando em algumas pessoas mal humor.

 E como escapar desta sensação? Buscando atividades para desviar sua atenção: caminhar, tomar um chá, praticar exercícios, um banho quente (se for possível), conversar com alguém. Ao fazer alguma atividade que te dê tanto prazer quando comer o bolo, a produção de dois neurotransmissores aumenta: dopamina e endorfina, os quais trazem a sensação de felicidade e relaxam. Em outro momento a vontade de comer bolo volta, e se for uma vontade genuína, se estiver dentro do seu planejamento, ela poderá ser atendida, liberando outro neurotransmissor, a ocitocina, responsável pela satisfação, sensação de segurança e vínculo.

O que acontece muitas vezes, é que, em vez de dar uma volta, diante da negação de atender à vontade, pode-se acionar uma crença de que é incapaz de esperar, como reação ao incômodo sentido pelo estresse da espera, para a qual você não está treinada. O cérebro pensa: “Não posso esperar” e te direciona para o comportamento de comer o bolo.

Em função da falta de treinamento em lidar com a frustração diante de impedimentos, ocorre um aumento exagerado da secreção do hormônio do estresse, chamado cortisol. Ele provoca um estado de estresse intenso no corpo, e o cérebro fica ainda mais tentado a procurar qualquer coisa que seja capaz de reduzir esse estresse, normalmente atendendo ao desejo imediato.

O que acontece por trás de atender as vontades imediatas é um vício em ser atendida. Com isso, cada vez mais o cérebro torna-se viciado em produzir cortisol mais e mais rapidamente diante das frustrações, pois não houve treino de gerar alternativas eficazes para se ter a dopamina e endorfina que trariam prazer e relaxamento pelos próprios meios: praticando exercícios, respirando fundo, conversando ou esperando um momento melhor para ser atendida.

Isso explica a dificuldade em deixar a vontade passar (que seria exatamente a forma de treinar o cérebro), não tem nada a ver com força de vontade, quimicamente é como se você sentisse uma crise de abstinência, mas a química do cérebro, bem conduzida nos leva a aprender. Devemos treinar nosso cérebro, e não é proibir, mas escolhendo o melhor momento para comer o que temos vontade.

A neurociência mostra que uma forte carga de estresse gera uma liberação acentuada de adrenalina, substância que em boa quantidade contribui para a liberação de mais acetilcolina, uma espécie de lubrificante para as sinapses do cérebro. Assim, a adrenalina indiretamente nos ajuda a ter mais e melhores conexões cerebrais, mas ela deve ser liberada em equilíbrio. Em quantidades exageradas, ela inibe a acetilcolina, substância que liga as sinapses, as conexões cerebrais. Vem daí a orientação para relaxarmos antes de tomar uma decisão. A adrenalina alta pode nos levar a terr atitudes que nem sempre são as mais adequadas.

Quando estamos estressados, seja física ou emocionalmente, o cérebro reage apenas com sua porção instintiva. E faz sentido, se estivermos fugindo de um predador maior que nós, não seria interessante que o cérebro gastasse energia para entender se aquele ser, nos ameaça ou não, mas sim, que ele nos prepare para correr ou lutar. Vem de aí a expressão “dar um branco” diante de situações altamente estressantes, pois nesses momentos ocorre uma migração do sangue das partes periféricas do corpo (membros e pele) para as áreas vitais (coração, pulmão, rins), de forma a nos proteger nos fornecer uma sobrecarga de energia para luta ou fuga.

E isso explica o porquê em momentos de estresse nem sempre temos o discernimento de fazer as melhores escolhas para comer. Procuramos alimentos mais práticos e rápidos, e nem sempre saudáveis. Além disso, há o apelo emocional, de procurar conforto em comidas gostosas para aliviar a tensão. Por isso, quando estiver estressado/nervoso, antes de comer qualquer coisa, respire, espere um pouco, para depois tomar a decisão se é realmente a hora de comer algo.

A alimentação está intimamente ligada às nossas emoções e juntamente com as conexões bioquímicas, nos fazem muitas vezes, não pensar no que seria melhor comer. Respirar, pensar um pouco, escolher com calma os alimentos, são as melhores dicas para não deixar que o emocional fale mais alto na hora de se alimentar.

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