A grande maioria das pessoas que me procuram querem um único objetivo: Emagrecer! Diante disso, resolvi escrever um pouco sobre o que leio, estudo e penso sobre o assunto.
Historicamente as pessoas comem por diversas outras razões que não são as necessidades biológicas. Comida também é prazer, comemoração com os amigos, com a família, tem haver até mesmo com espiritualidade. É cultura e diversão. O prazer de comer é um dos mais essenciais da vida, compartilhar a comida é uma das felicidades do ser humano.
Em diversos momentos comemos sem perceber o que estamos colocando na boca, não prestamos atenção às nossas sensações de fome real e saciedade (aquela hora que devemos parar de comer). Comer muitas vezes é um gesto automático, sem aproveitamento do momento, e muito menos nutrição do organismo. Não damos valor a qualidade do que comemos. Assim que terminamos de comer, não lembramos do gosto que o alimento tinha. Se você se identificou continue a leitura!!
Comer corretamente é comer quando se tem fome e parar quando ficar satisfeito, fazendo boas escolhas (em relação a qualidade e também ao que gostamos de comer). Dar mais atenção ao sabor, à textura dos alimentos, a fome real e a saciedade são atitudes que podem ajudar a alcançar a um peso saudável. Desenvolver a capacidade de comer quando está com fome e parar quando está satisfeito, reconhecer a fome inicial e reagir de acordo com ela ajuda a normalizar o peso sem sacrifício.
A alimentação é mais do que a simples ingestão de nutrientes. Ela vai além. Ela contempla os alimentos que contém esses nutrientes, que combinados entre si, respeitando o preparo, a cultura e as práticas alimentares, nos alimentam e nos nutrem.
A prática de comer consciente pode ajudar a reconectar o corpo com a mente, pode ajudar a evitar nossas reações ao estresse relacionadas com a comida. É importante estar plenamente consciente do que está acontecendo conosco, ao nosso redor. Quando não prestamos atenção ao que estamos comendo, às refeições, o nosso corpo fica com a “sensação” de que não se alimentou de forma suficiente. Temos que ter a consciência do que comemos e valorizar o ato de comer, não só para nutrir o nosso corpo, mas também para ajudar a nossa saúde.
Até o nosso DNA se expressa de acordo com nossa alimentação. Eles estão silenciados ou ativos em função do que comemos. Muitos fatores influenciam a expressão dos genes (ambiente, estresse, sono, medicamentos) mas a alimentação é o fator de maior peso. Não somos todos iguais quando se trata de perder peso, cada um tem seu ritmo, seus genes. Não é simplesmente fechar a boca e fazer exercícios. Não é só questão de força de vontade, é muito mais amplo, é muito mais!
A digestão é fundamental, isto não é segredo. Ela envolve uma complexa série de sinais hormonais entre o intestino e o sistema nervoso. Sem uma boa digestão perdemos uma parte do valor nutritivo dos alimentos. Há estudos mostrando que quando comenos distraídos atrapalhamos a digestão. A mastigação é uma grande aliada. Mastigar devagar, saboreando a refeição, nos faz sentir a saciedade chegar mais rápido e sair da mesa satisfeito com uma menor quantidade de alimentos, sem exageros. Além disso, mastigar bem, manda mensagens para o cérebro, o qual envia sinais ao nosso sistema digestivo para que inicie a digestão do que está por vir.
Quando nos concentramos no que estamos comendo e nas sensações de fome e saciedade, melhoramos nossos hábitos alimentares e nosso estilo de vida. Comer devagar o alimento que gostamos (até aqueles que “teoricamente” não entram nas dietas), saboreando, sem estresse, sem culpa, faz com que comemos quantidades menores e ficamos satisfeitos com menos do que comeríamos antes (rapidamente, no automático).
A única forma de evitar o sobrepeso é comendo! Comendo com qualidade, de forma simples e gostosa. Caprichar no preparo, voltar a cozinhar! E sempre que possível, comer em família. Comer junto com a família, promove comportamentos alimentares positivos e bem estar. Claro que a família toda tem que estar alinhada a um hábito mais saudável. Na correria dos dias de hoje é difícil fazer as refeições em casa, mas se conseguirmos fazer pelo menos uma, já ajuda muito! Foque no que comer e não no que não comer!
Para perder peso de forma concreta não pode haver pressa. Forçar o corpo a perder peso de forma rápida, com restrições muito provavelmente trará o famoso “efeito sanfona”. Focar na saúde e no estilo de vida mais saudável é a melhor forma de perder peso com tranquilidade. Perde peso é consequência de uma saúde equilibrada, o peso não é a causa dos problemas, e sim a consequência deles. O ganho de peso está relacionado ao desequilíbrio de vida, seja no campo emocional, profissional, pessoal, etc. Concentre-se na saúde, não no peso. Se a perda de peso vier como consequência de atitudes mais saudáveis, estamos no caminho certo.
O mundo evoluiu muito, mas talvez a nossa genética nem tanto. O nosso metabolismo foi criado há milhares de anos, quando a falta de comida era rotina e a busca por ela uma atividade constante. Nessa época, sobreviveria quem tinha mais gordura estocada, para ser utilizada como fonte de energia no momento de escassez. E hoje? Será que sofremos com falta de comida? Claro, que não! Temos oferta a cada esquina. Mas o nosso metabolismo continua o mesmo, o nosso cérebro ainda enxerga a gordura como proteção. O nosso cérebro controla tudo: emoções, fome, saciedade, sentimentos. O cérebro indiretamente controla nosso peso. O raciocínio deveria se muito simples: os alimentos que vieram da natureza (comida de verdade), os quais foram feitos para nós, para nos alimentar, não deveriam trazer essa preocupação que “engordam”, porque se está com fome, coma! Se está sem fome, pare de comer! Simples assim. Mas não é o que fazemos. A comida, muitas vezes serve de fuga, e em sua maioria, de má qualidade.
Repetindo: 0 nosso cérebro controla tudo! O emocional é muito importante, principalmente quando estamos falando de ganho ou perda de peso. Tudo deve ser avaliado: a parte clínica, histórico de vida e saúde, comportamento e emoção! Porque nós somos um complexo, um todo, e não partes segmentadas.
O sobrepeso e a obesidade são complexos, eles não ocorrem por um único motivo, são multidimensionais. Deve-se considerar, em um tratamento, os aspectos clínicos, endócrinos, emocionais, socioculturais, genética e outros fatores que vão desde a microbiota intestinal até o uso de medicamentos.
Apostar em dietas restritivas como tratamento vem demonstrando ao longo dos anos ser uma estratégia que não promove a melhora consistente e duradoura na redução do peso e na mudança de comportamento relacionado à saúde. Por isso o acompanhamento nutricional deve ser feito de forma abrangente, não focando no peso e sim na mudança de hábitos. As estratégias devem ser definidas de forma que o indivíduo sinta-se compreendido e acolhido. Esse é o papel que só um nutricionista é capaz de fazer adequadamente.
O nutricionista deve realizar um atendimento individualizado que considere, além das interações bioquímicas de cada paciente, todo o contexto psicológico em que a pessoa se encontra. O atendimento deve ser voltado para alcançar os resultados com as estratégias nutricionais de acordo com as condições que o paciente tem de realizar as mudanças no momento. O nutricionista tem que compreender as dificuldades e limitações de cada um, sempre respeitando o MOMENTO vivido. Dificilmente outro profissional (o qual não está capacitado) conseguirá fazer isso de forma tão abrangente.
Existem várias estratégias que podem promover resultados positivos no emagrecimento, através de modulação dos desequilíbrios funcionais e ativação de componentes moleculares que envolvem o ganho de peso. O indivíduo que busca um tratamento nutricional deve estar ciente de que as mudanças no seu estilo de vida, conscientização da educação nutricional e automonitoramento é de responsabilidade sua! Cada um é responsável por suas próprias escolhas no que diz respeito aos seus hábitos alimentares e de saúde. O profissional está apto a orientar, motivar e ajudar, mas quem faz, quem executa e escolhe é o paciente!
As escolhas alimentares devem ser feitas a partir de um equilíbrio entre o desejo, apetite e adequação alimentar. O comportamento é o ator principal, o qual vai ganhar o Oscar nesta busca por saúde e peso saudável!
FONTE: Naves, Andréia. Nutrição Clínica Funcional: obesidade, 2014. Deram, Sophie. O peso das dietas, 2014. Alvarenga, Marle…et al. Nutrição comportamental, 2015.
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