Para começar 2107 vou falar de algo que está sendo muito questionado ultimamente: a gordura saturada realmente faz mal para a saúde? Para responder a esta pergunta comecei a ler alguns artigos científicos e separei um deles para dividir aqui com vocês.  O artigo escolhido foi este:

INTAKE OF SATURATED AND TRANS UNSATURATED FATTY ACIDS AND RISK OF ALL CAUSE MORTALITY, CARDIOVASCULAR DISEASE, AND TYPE 2 DIABETES: SISTEMATIC REVIEW AND META – ANALYSIS OF OBSERVATIONAL STUDIES. (BMJ, 2015).

Ingestão de ácidos graxos saturados e insaturados trans e risco de todas as causas de mortalidade, doença cardiovascular e diabetes tipo 2: revisão sistemática e meta-análise de estudos observacionais. 

Este artigo, publicado em 2015, é uma meta-análise de estudos observacionais.
O objetivo deste estudo era de analisar sistematicamente as associações entre gordura saturada e gordura trans com todos os riscos de mortalidade, doenças cardiovasculares (DCV), acidente vascular cerebral (AVC) e diabetes tipo 2.

Esta revisão foi conduzida de acordo com o processo das diretrizes da OMS (Organização Mundial de Saúde). Foram realizadas pesquisas observacionais avaliando as associações entre gordura saturada e/ou trans e saúde. Os estudos escolhidos incluíram qualquer estudo observacional em humanos (como coorte prospectivo, caso-controle, caso controle alinhado ou caso-coorte). Foram analisados estudos de diversos países.

As gorduras saturadas contribuem com cerca de 10% do valor total energético da dieta norte-americana. As principais fontes de gordura saturada presente nos alimentos são: manteiga, leite de vaca, carne, salmão, ovos, manteiga de cacau, óleo de coco, óleo de palma e manteiga de coco. Meta- análises anteriores (estudos de coorte prospectivos) relataram aumento de risco de desenvolvimento de doenças cardiovasculares, AVC e doenças coronarianas quando há excesso de consumo de gordura saturada. Ensaios de intervenção demonstram benefícios cardiovasculares modestos com a redução de gordura saturada e aumento de gorduras polinsaturadas. Mas a maioria dos ensaios durou no máximo 2 anos, tempo considerado curto para conclusões. Outra meta-análise de estudos randomizados sugeriu uma redução de 17% no risco de DCV com a diminuição do valor energético proveniente de gorduras saturadas de 17% para 9%.

As gorduras trans representam cerca de 1 a 2% da energia da dieta norte-americana. São produzidas industrialmente através da hidrogenação parcial de óleos vegetais. Ela pode estar presente naturalmente também em alguns alimentos provenientes de animais ruminantes (carne, leite e derivados). Uma meta-análise relatou que a gordura trans produzida industrialmente pode aumentar o risco de doenças cardiovasculares, embora isso pudesse refletir os baixos níveis de gorduras trans naturais em comparação com as altas doses de gordura trans industrial tipicamente presentes em alimentos processados.

As diretrizes dietéticas recomendam que as gorduras saturadas devem ficar menores que 10% do valor total de gorduras e entre 5-6% para aqueles que precisam reduzir o LDL colesterol. A gordura trans deve estar no máximo 1% do total de energia ou o mais baixo possível, principalmente para para reduzir o risco de doenças coronarianas e AVC.

Nesta síntese de evidências observacionais não foram encontradas associações claras entre o maior consumo de gorduras saturadas e mortalidade por qualquer causa, DCV, doença coronariana, AVC ou diabetes tipo 2 em humanos saudáveis. No entanto, o consumo de gordura trans foi associado ao aumento da mortalidade por qualquer causa, aumento de 28% no risco de desenvolver DCV e 21% no risco de doença coronariana. Além disso, esses dados sugerem que as gorduras trans industriais conferem um aumento de 30% no risco e morte por DCV e 18% no risco de morte por doença coronariana. Por causa da inconsistência dos estudos não foi possível confirmar uma associação clara entre gordura trans e diabetes tipo 2. Não foram encontradas relações entre gorduras e AVC.

Não houve associação entre a ingestão de gordura saturada e causas de mortalidade, porém os ensaios clínicos controlados têm demonstrado que quando os carboidratos da dieta são substituídos por gorduras saturadas há um aumento do colesterol total e LDL. Foram demonstradas anteriormente associações diretas e positivas entre o aumento das concentrações de colesterol total e LDL e causas de mortalidade por doença coronariana. Nesta revisão não foi encontrado nenhuma associação neste sentido. Alimentos ricos em gordura saturada, especialmente processados e carnes vermelhas no entanto tem sido associados com o aumento da mortalidade e risco de câncer.

Um pequeno corpo de evidências sugere que os aumentos de gordura saturada e risco de mortalidade por doença cardiovascular ocorra em pessoas com diabetes. Isso poderia se relacionar com o aumento do colesterol LDL, efeito de gordura saturada e outras consequências metabólicas da resistência a insulina em pessoas com diabetes. Em estudos metabólicos, a gordura saturada prejudica a sensibilidade a insulina e gordura insaturada melhora o metabolismo da glicose, substituir a gordura saturada por monoinsaturada aumenta lipoproteínas e controle glicêmico em pacientes com diabetes tipo 2.

As gorduras saturadas não foram associadas com doença coronariana, mas encontrou-se uma tendência de associação com mortalidade por esse tipo de doença. Em 11 estudos de coorte prospectivos a substituição de gordura saturada por gordura poliinsaturada reduziu o risco coronariano em 13%, consistente com os resultados e ensaios clínicos controlados randomizados. Mas a substituição de gordura saturada por monoinsaturada ou carboidratos aumenta o risco de infarto do miocárdio não fatal. Os carboidratos em dietas ocidentais são normalmente altamente processados, alimentos com alta carga glicêmica, que poderiam aumentar o risco quando substituem as gorduras saturadas. Benefícios inconsistentes  foram encontrados quando troca-se uma fonte de gordura saturada por outra, provavelmente porque muitos ácidos graxos saturados são comuns em diferentes fontes alimentares.

Os pesquisadores não encontraram nenhuma associação entre gorduras saturadas e risco de acidente vascular cerebral isquêmico (AVC), embora o risco relativo de AVC foi reduzido em 18% quando o consumo de gordura saturada foi reduzido. Uma dieta rica em gorduras monoinsaturadas foi associada a redução da pressão arterial.
Não encontraram também nenhuma associação entre gordura saturada e gordura trans e o desenvolvimento de diabetes tipo 2.

Foram encontradas associações fortes entre a ingestão de gordura trans e doença coronariana e mortalidade por tal doença. Os efeitos sobre o risco de doenças cardiovasculares são medidos através de lipídeos no sangue e processos inflamatórios. A descoberta é que um aumento de 2% no valor calórico total, através de gorduras trans está associado a um aumento de 25% no risco de doença coronariana e 31% no risco de mortalidade.

Dois estudos prospectivos avaliaram a associação entre gorduras trans e AVC, mas são inconclusivos. A associação com o risco de AVC deve ser estudado mais profundamente.

Esta revisão sistemática e meta-análise de provas a partir de grandes estudos observacionais geralmente bem executados, não suporta a associação de gorduras saturadas com doença cardiovascular, doença coronariana, AVC e diabetes tipo 2 em indivíduos saudáveis. Em grandes estudos prospectivos, quando as gorduras polinsaturadas substituíram as gorduras saturadas o risco de doença cardiovascular reduziu, mas não quando a gordura trans ou o carboidrato são a escolha de substituição. A ingestão de gordura trans está associada a um aumento de 20 a 30% no risco de mortalidade por doença coronariana, mas as associações com diabetes e AVC não estão claras.

Resumindo o artigo: encontraram forte associação entre gordura trans e doenças cardiovasculares, mas não encontraram evidencias da associação com diabetes tipo 2 e AVC. Nenhuma associação entre gorduras saturadas e todas as causas de mortalidade (DCV e DC) ou diabetes tipo 2 foi encontrada, mas quando a gordura saturada é substituída por carboidratos refinados há um aumento de LDL. A substituição de gordura saturada por polinsaturada pode reduzir o risco relativo de doenças coronarianas. E no final, o artigo ainda propõe que as diretrizes nutricionais atuais precisam ser revistas.

Quero deixar claro que essas conclusões não são minhas, eu simplesmente dividi um artigo científico recente que fala sobre assuntos atuais em evidência.

Não recomendo a ninguém se entupir de gordura saturada, ou qualquer outro tipo de gordura. Mas acredito que não precisamos ter tanto medo dela. O principal é ter equilíbrio, sempre!!!!
Espero ter contribuído um pouco e vou estudar ainda mais, para trazer assuntos atuais e interessantes para quem me acompanha.

Um abraço e até o próximo post.
Fonte:https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/26268692

 


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